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terça-feira, 26 de março de 2013

SERÁ QUE É O PREÇO?

Certa vez, Paulo Vinicius Coelho disse num programa da ESPN, com relação aos públicos nos estádios que o diagnóstico errado gera o remédio errado, e o remédio errado pode se transformar em veneno.

Saiu hoje no Lancenet, notícia de que os ingressos aumentaram 300% nos últimos 10 anos. Na reportagem o diretor da consultoria que fez o estudo, vaticina que os estádios estão vazios por conta do preço. Bem, pegando as médias de público do Campeonato Brasileiro da Série A como parâmetro, vemos que isso é mentira, pelo menos na amostragem de tempo que a Pluri fez a análise. Em 2003, a média foi de 10468 pagantes, a do último Campeonato foi de 12983, ou seja, um incremento de quase 25% para um suposto aumento do ingresso de 300%, se é essa a análise a ser feita, os clubes estão cobertos de razão.

A reportagem fala que o futebol revogou a lei da oferta e demanda, a grande questão é o quanto essa demanda se estica pelo fator preço. E outra questão que corre em paralelo, é se os demais setores do futebol brasileiro permitem que a lei da oferta e demanda seja levada às últimas conseqüências.

Tentando explicar: o jogo Nova Iguaçu x Vasco causou grande espanto quando foi anunciado o público pagante de 770 torcedores. Analisando todos os componentes do jogo: horário de 22 horas, transmissão em TV aberta, inclusive para a cidade de Volta Redonda, Vasco vindo de derrota para um pequeno. Duvido muito que mesmo com os portões abertos e ingressos gratuitos, o estádio chegaria perto de lotar. Logo, a conta a ser feita pelos clubes, é qual é o preço que me permite ter uma maior arrecadação.

No Brasileiro de 2005, em que Botafogo e Flamengo jogaram no estádio da Portuguesa da Ilha, havia promoção de ingresso a 1 real, em vários jogos. Na minha lembrança, em vários desses confrontos, a capacidade do estádio ficou muito ociosa.

Ingresso a 1 real

A outra face da moeda, é que quando existe demanda para os ingressos, a cartolagem, a imprensa, as torcidas organizadas e tudo que cerca o futebol não permitem, ou pelo menos chiam bastante, que os preços sejam elevados até onde a demanda sugere. A final da Taça Guanabara 2013 é um exemplo disso, todos acharam absurdo o valor do ingresso, fora da realidade diziam alguns, entretanto todos os ingressos foram vendidos, o que prova que é possível até que se a corda fosse mais esticada, a presença do público seria a mesma e a arrecadação maior.
Fluminense x LDU em 2008, exemplo de gritaria contra a lei da oferta e demanda.

Eu que nasci em 1985, não consigo entender a gritaria sobre público que temos por aqui. Pelo menos nos últimos 20 anos, os públicos se mantêm mais ou menos constantes, dizem ser um absurdo o Flamengo colocar 4171 pagantes contra o Boavista, só que em 1996 contra o Barreira (antigo nome do Boavista) colocava 2794. Uso o Flamengo como exemplo, pois é o time de maior torcida, mas o panorama não muda muito entre os 4 grandes do Rio. Eu posso até aceitar que os públicos são pífios, porém essa discussão está atrasada no mínimo há 30 anos.

Quanto ao valor do ingresso, a título de comparação, peguei duas situações onde toda a oferta foi consumida, uma a primeira final do Campeonato Carioca após a implantação do Plano Real e a recente final da Taça Guanabara. Vamos comparar os valores dos ingressos:

Fluminense 3 x Flamengo 2 (25/06/1995)
Público Pagante: 112.285
Renda: R$1.621.850,00
Ticket Médio: R$ 14,44

Botafogo 1 x Vasco 0 (10/03/2013)
Público Pagante: 32.770
Renda: R$1.617.180,00
Ticket Médio: R$ 49,34

Colocando o valor de R$14,44 para ser corrigido pelo IPCA na Calculadora do cidadão do Banco Central, teremos um valor em março de 2013 de R$47,96. 14 reais em 1995, representava 14% do salário mínimo, 50 reais hoje representam menos de 8% do salário mínimo. Logo, não parece que os preços estão assim tão exorbitantes, pelo menos para os grandes jogos.

Na verdade, olhar só para os preços pode ser a pior saída para o futebol brasileiro sair desse patamar de presença de público nos estádios. Todos os demais fatores parecem influenciar muito mais do que o valor do ingresso. As fórmulas do campeonato,  as instalações dos estádios, a cultura torcedora, a overdose de futebol nas TVs fechadas  (o Brasil deve ser o único país do mundo onde se transmite campeonato de pelo menos 12 países), o acesso aos estádios, a qualidade dos times envolvidos. Procurar resolver outras questões podem mostrar caminhos mais promissores.